domingo, 15 de março de 2009

IVAN AGUILAR fala sobre MODA MASCULINA...

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Ivan Aguilar, 45 anos, não tem mais motivos para ser apenas lembrado como o estilista dos ternos do presidente Lula. Aliás, ele até evita o assunto. Hoje, este mineiro que desde os sete anos vive no Espírito Santo prefere ser reconhecido pelas próprias criações. E está conseguindo. Nas suas apresentações no Fashion Rio, ele tem sido considerado uma revelação. Ivan inova apostando no tradicional: a alfaiataria. E não poderia ser diferente: filho de mãe costureira, ele cresceu no meio de produções artesanais. Não torce o nariz, porém, para a malharia e o jeans. Gosta da casualidade, mas diz que a sociedade precisa também manter suas tradições.

A moda masculina teve seu foco inicial na França e logo depois Londres estabeleceu uma nova elegância para o homem. Hoje, quais são e onde estão os novos parâmetros de elegância?
A elegância ficou vinculada ao padrão britânico até por conta dos dândis e dos fraques, no século XIX. Mas é a Itália que sopra os ventos da elegância para os quatro cantos do mundo. Os italianos continuam imbatíveis.
E quem oferece risco para o império dos ternos Armani, hoje, sinônimo de homem chique?
Talvez os japoneses. Mas eles ainda não se estabeleceram como objeto de desejo. Não há estilistas específicos, mas o processo de produção e qualidade dos japoneses é muito apurado e sofisticado. Eles desconstroem clássicos, criam sobreposições, tudo isso com uma habilidade incrível. Mas falta a eles ainda se estabelecer como marca, um nome. Quem sabe isso não acontece daqui algum tempo.
Os italianos, por exemplo, antes eram apenas exímios alfaiates.Como você define a nova elegância?
A elegância atualmente está muito mais relacionada à atitude do que a roupa em si. É a postura social da pessoa que vai definir isso. Um homem pode estar com uma calça detonada e ser muito chique. Os elegantes formam opinião. O blog The Sartorialist, por exemplo, fotografa pessoas extremamente cools pelas ruas do mundo inteiro. Essas escolhas não vem da indústria da moda. É algo espontâneo. São pessoas com certo magnetismo que inspiram estilos de vida. As passarelas estão absorvendo isso também.
A elegância, então, que era ligada a formalidades. está mais espontânea. Como ficam as regras nesse meio?
Todo homem precisa de parâmetros. As regras devem ser levadas como sugestões e não como imposições. A ocasião também faz a regra. Ninguém quer parecer inapropriado. São linguagens que ajudam as pessoas a se sentir mais à vontade. Em casamentos, por exemplo, defendo a tradição. Uma sociedade precisa ter suas tradições. Além disso, o tradicional também é muito bonito. Hoje, em nome de uma pretensa liberdade, as pessoas pecam muito no vestir. Por outro lado, defendo que o homem deva ser mais exigente e experimente mais, até mesmo para descobrir seu estilo pessoal. O homem ainda é muito careta em suas escolhas.
N a passarela, parece que você busca esse diálogo do tradicional e do descolado...
Justamente. Vivo buscando esse equilíbrio.
Como o seu cliente mais tradicional, aquele que prefere o terno e a gravata, recebe suas novas propostas? Eles as acham muito distante da realidade ou já estão consumindo?
Existe até o caso de pessoas que querem o look montado do desfile. Mas há, sim, gente que era só de terno e que está migrando para o casual. Poucos ainda, mas muitos em relação ao consumo de cinco anos atrás.
Por falar em quebrar regras, a camisa pólo é uma roupa de origem esportiva que migrou para o ambiente de trabalho. Você gosta de adaptações?
É um fenômeno. É uma peça que migrou bem para o ambiente de trabalho; mas acho que deve ser usada em dias específicos, como nas sextas. Nas cidades mais quentes, contudo, é essencial.
O estilista e consultor Fernando de Barros dizia que 300 anos de história é muita coisa para uma roupa. E que o terno, na sua definição mais clássica (colete, paletó e calça), estava fadado à extinção. Você concorda?
Adorava o Fernando, sempre fui fã e amigo dele também. Contudo, discordo dessa opinião. Acho muito perigoso apontar que tal tendência vai se extinguir. A moda pode até cair em desuso por ela mesmo, mas não porque alguém decretou. O terno faz parte do guarda-roupa básico do homem. É uma roupa democrática, que deixa elegante todos os homens. Ainda não inventaram nada melhor que o terno. Acredito que nossa geração não vai ver isso acontecer. Mas hoje se adota mais o costume, que dispensa o colete... Mesmo suprimindo uma das três peças, o nome está popularizado como terno. De qualquer forma, hoje 20% das minhas vendas correspondem ao terno clássico. Os noivos, por exemplo, fazem questão de usar um colete de alfaiataria, da mesma cor das demais peças. Aqueles modelos de tecido brilhante já caíram em desuso.
Como você define um bom guarda-roupa masculino?
O guarda-roupa básico deve ter um terno preto bem cortado e um paletó avulso de canvas ou sarja, numa cor mais clara ou no azul-marinho. Na camisaria, pelo menos, três peças em cores variadas: branca, azul e uma outra cor, como rosa ou amarelo claro. Também indico camisas pólo para os dias mais casuais do trabalho e também para os momentos de passeio. Duas calça jeans e bermudas. Para os pés, um sapato preto, outro marrom e uma sandália de couro.
Você ficou conhecido como o estilista dos ternos do Lula....
"Esquece o senador" (brinca, fazendo referência à personagem Lady Kate, do humorístico "Zorra Total")
Não adianta fugir, Ivan. Você continua nos bastidores do poder, não é?! Inclusive, também vende muito para o Legislativo. De forma geral, há preferências comuns entre políticos?
Eles pedem qualidade e conforto. Querem ternos que durem bastante até porque é um traje que eles usam a semana inteira. Procuro sempre oferecer tecidos mais leves, fios de lã fria bem finos. De modo geral, políticos renovam muito pouco o guarda-roupa. Alguns desses clientes eu já até faço o terno antes deles pedirem porque já sei que está na hora de darem uma mudança no visual.
No mundo da moda, você se prende a certas convenções, como número de botões do paletó ou deixar desabotoado o último botão?
Acho essa discussão uma grande bobagem. O Mário Queiroz (estilista) colocou na passarela, certa vez, ternos de quatro botões e foi execrado pela mídia. Falaram que ele tinha parado no tempo, estava retrogado. O consumidor comum não liga para que o terno tenha um, dois, três ou quatro botões. Ele quer aquilo que veste bem. Um terno de um botão, por exemplo, não vai cair bem para aquele homem que tem uma barriguinha saliente. Por isso que muita gente associa essa modelagem a algo de passarela.
Idem para gravata?
A gravata já é bem mais variável e mais fácil de ser adaptada aos biotipos. Para o inverno, lancei a gravata de 2 cm de espessura, bem fininha. Vários tipos e estilos de homens já encomendaram. A gravata causa muito mais impacto do que o número de botões do terno. O executivo que quiser dar uma mudada no visual, sugiro sempre escolher uma nova gravata.
As mudanças são muito sutis no guarda-roupa masculino. Por isso elas são quase centenárias.E como você costuma sugerir renovação para esse guarda-roupa tão restrito?
A renovação fica na composição de peças, no mix de tramas e estampas. A modelagem não tem como fugir muito. O importante é que o corte seja bem apurado.
Quem você considera hoje um ícone de elegância?
Com certeza, Barack Obama. Ele tem uma vaidade despretensiosa, que o deixa charmoso.

22/02/2009 –
por Thaiz Sabbagh
thaizsabbagh@gmail.com.br

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